quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Escalão C

1º Prémio

                                                              Um Conto de Natal
Aproximava - se o Natal. O dia amanheceu frio e cinzento, como devem ser os dias que antecedem o Natal. Flor acordou cedo como habitualmente mas, como já estava de férias, deixou - se ficar na cama, absorvendo a alegria calma e doce própria das manhãs de férias. Sentia - se duplamente feliz: estava de férias e era Natal, a sua época do ano preferida. Flor tinha dez anos. Além de ser filha única, era a única criança de uma família numerosa. No enorme casarão onde viviam, nos arredores da cidade, recebiam frequentemente a visita de familiares. A Flor agradava especialmente a visita dos avós, sempre disponíveis para conversar e brincar com ela. Por ser filha única, desde pequenina que se tinha habituado a entreter sozinha, pois os pais chegavam tarde do trabalho e Eva, a empregada, nem sempre podia dar - lhe muita atenção. Flor adorava ler e desenhar. Quando estava bom tempo, desfrutava do amplo jardim que circundava a casa e andava de bicicleta ou brincava ao faz - de - conta, imaginando viver mil e uma aventuras. Imaginação e criatividade não lhe faltavam!

Naquela manhã, Flor acordou especialmente animada. Na véspera, a mãe tinha combinado que iriam enfeitar a casa. Ajudar a mãe a decorar a casa, armar o pinheiro e o presépio, era para Flor uma enorme emoção. Apesar de ser a única criança da casa, adorava festejar o Natal! E também lhe agradava aquela época do ano: gostava do tempo frio, para poder estar junto à lareira a ouvir as histórias contadas pelos avós, enquanto se deliciava com o leite com chocolate quente que a avó preparava, a acompanhar uma apetitosa fatia de bolo de nozes e mel, sua especialidade. Na escola, era habitual os meninos fazerem, com a ajuda dos professores, as decorações natalícias com que enfeitavam a escola. Ficava uma maravilha!
Flor já se tinha apercebido que, naquela altura do ano, as pessoas eram mais simpáticas e amistosas. Por todo o lado se espalhava o calor humano, qual música natalícia. E como era uma menina sensível e afectuosa, este tipo de comportamento agradava - lhe sobremaneira. Por todas estas razões, o Natal era a sua época do ano de eleição.
Enquanto aguardava que a mãe e Eva trouxessem do sótão as bolas coloridas, as grinaldas e as luzes para enfeitar o pinheiro e a caixa onde se encontrava guardado o presépio, a menina deu consigo a pensar: “ Por que razão as pessoas não festejam o Natal todo o ano? O mundo seria mais feliz se todos fossem sempre tão simpáticos e pacientes durante o ano como são em Dezembro!” E, de repente sentiu uma enorme ansiedade, um nó que lhe apertava o peito e lhe tirava subitamente a alegria. Quando a mãe chegou à sala, estranhou o ar pensativo da filha.
- Que se passa Florzinha? - Indagou a mãe, afagando o rosto da filha.
- Nada, mãe. Apenas estava aqui a pensar que ….
Antes que a menina concluísse o seu pensamento, a mãe brincou:
- Não me digas que te esqueceste de escrever ao Pai Natal!
D. Clementina sabia perfeitamente que a filha já há muito que não acreditava no Pai Natal, embora escrevesse sempre o seu pedido e o colocasse na chaminé. A menina continuou:
- Mãe, este ano não quero presentes, mas tenho um pedido a fazer… - esclareceu a menina. - Gostava muito de convidar uma criança…
D. Clementina, que conhecia muito bem a sua filha, percebeu de imediato a sua intenção e, interrompendo - a de novo, afirmou:
- Sei muito bem a que te estás a referir. Será um prazer convidar uma criança de um orfanato para vir cá passar o Natal.
- És o máximo, mãe! Eu sabia que podia contar contigo. Quando vamos buscá - la? - perguntou, quase sem respirar, a menina.
- Calma, filha. Uma coisa de cada vez! Acabamos o que estamos a fazer e, ao jantar conversamos com o pai. Estás contente?
Depois do jantar foram procurar na internet o nome de um orfanato na sua área de residência. Nessa noite, Flor teve imensa dificuldade em conciliar o sono. Finalmente, exausta, adormeceu. Na manhã seguinte, logo após o pequeno-almoço, o pai fez um telefonema para o orfanato. Explicou à Directora o seu desejo e, de imediato, a família preparou - se para fazer uma pequena viagem, de cerca de cinquenta quilómetros.
Flor fez todo o percurso numa ansiedade enorme. A sua cabeça era um turbilhão. Estava feliz por poder contribuir para a felicidade de uma criança, fazer com que também ela sentisse o calor de uma família e, quem sabe, os pais a pudessem adoptar? Afinal só a tinham a ela, podiam perfeitamente ficar com mais uma criança e aumentar assim a família. Ia ser tão bom! Assim com estes pensamentos a bailarem - lhe na cabeça. chegaram ao destino. Depois de tocarem à campainha, esperaram uns segundos que, a Flor, pareceram uma eternidade. Aguardaram pela Directora numa enorme sala, austera e fria. Quando a porta se abriu, a Directora entrou, levando pela mão uma encantadora criança, de idade aproximada da de Flor.
- Bom dia! - cumprimentou a Directora - Apresento - vos Juliana - continuou ela, abrindo um enorme sorriso que contratava com a austeridade do salão.
Timidamente, a menina cumprimentou os visitantes. Flor abriu de imediato os braços para a abraçar. Parecia que se conheciam desde sempre!
- Juliana, esta é a família de que te falei. Vais passar as férias de Natal em sua casa. Mas só se tu quiseres - adiantou a Directora.
Combinaram tudo e, dois dias depois voltaram lá para ir buscar a menina.
Flor e Juliana deram - se lindamente e logo se tornaram confidentes. Flor ficou a saber a razão da sua amiga viver no orfanato e jurou a si própria tudo fazer para convencer os pais a adoptarem - na. Seria a felicidade suprema.
Também D. Clementina e o marido estavam felizes. Sentiam uma grande ternura por aquela criança tão frágil e delicada. Estavam - lhe agradecidos por lhes ter proporcionado a oportunidade de se tornarem melhores pessoas. E tomaram uma decisão.
Na manhã do dia 25, durante o pequeno-almoço, transmitiram a boa nova às crianças. Estas não podiam ter melhor reacção:
- Obrigada! - Exclamou Juliana, rindo e chorando simultaneamente. - Estou tão feliz!
- Obrigada, mãe, obrigada pai, são os melhores pais do mundo - agradeceu Flor, abraçando - os e beijando -os carinhosamente.
- Este é o Natal mais feliz de sempre. - Disseram as meninas, a uma só voz.
E aquele Natal ficou para sempre gravado na memória daquelas crianças e daquela família.


ISA (Maria Morais) – Agrupamento de Escolas de Gondifelos – V.N.Famalicão